terça-feira, 26 de maio de 2009

O QUE PODERIA TER SIDO

Fiquei muito zangada
quando você me censurou
Quando me disse
Que eu estava fazendo da lembrança
uma fantasia
E da fantasia criava
meu falso amor particular

Que estava vivendo há 30 anos atrás

Não quero mais.

Muitas coisas eu desejaria ter dito,
de uma forma diferente.
Mas não disse.

Muitas coisas poderia ter feito
de forma diferente,
mas não o fiz.
Aliás, eu sempre fui assim:
tempestade, jamais bonança ou paz.
Meu porto está onde não estão as velas
Jamais no cais.

Pois do contrário
eu velejaria dentro de mim mesma
E em mim mesma me perderia.

As paixões, quando são nossas
não devem ser divididas,
caso não esteja dentro
de nós se apaixonar
Ou dentro
do momento das pessoas .

É verdade.
Valorizei, mais meus sentimentos ruidosos
do que respeitei os teus
refletidos no silêncio e no comedimento.
Te importunei tanto que
No silêncio resposta,
Sua alma generosa
Me impôs
a magia que a sua presença me desperta.

Navegando na captação mágica,
Carreguei em tua mala-coração
A Tempestade de mim
Meu eu tempestade,
Refletido na seqüência de raios e trovões,
Na avalanche
Na minha viagem
que infligi a você.

Mil dores de amores mal resolvidos.
te expus a perigos
constantes, dilacerando
tua alma
clareando teus pensamentos
que queriam permanecer na sombra.

Invadi a tua casa, o teu lar,
com mil dúvidas e angústias
cravando minhas garras no deu diário
Inundei de poesia tuas receitas pré estabelecidas,
Sem medidas nem talvez.

Ousei dizer a você que você deveria
voltar a ser aquele ser amante e apaixonado
De trinta anos atrás.
Infringi todas as regras de conduta.

Me impus todas as multas
que um código jamais poderia prever.

Assaltei tua memória
Com estórias antigas,
Estórias sem história
Que não poderiam mais me pertencer.
Dispus, mesmo assim, delas qual me pertencessem
Enchendo tua vida de caraminholas,
Badulaques, coisas que deveriam ter sido jogadas fora há muito tempo.

Liquidações de garagem,
badalações.

Só queria te dizer
que não me arrependo
Dos meus arroubos e exageros
Dos gestos tresloucados
Dos beijos
Dos abraços no frio
Agora vou te deixar
No teu canto comportado
Sem se sentir amado
Sabendo que perdeu
Aquilo que jamais chegou a alcançar.
desperta, coração mediano!

A volta I

VOCÊ VOLTOU
DIZENDO QUE ME AMA
E COM VOCÊ VIERAM
EM FILA INDIANA,
TODOS OS TEUS FANTASMAS
E MINHAS REALIDADES.

VOCÊ VOLTOU
E COM VOCÊ
DESFILAM MUDOS
ENTRUDOS, ESCUDOS,
OS TRÁFICOS
DE SENTIMENTOS
MAL RESOLVIDOS.

VOCÊ VOLTOU
MAIS UMA VEZ
SEM SIM NEM TALVEZ
E COM VOCÊ
MIL PÁSSAROS VOARAM
DA MINHA PLANTAÇÃO DE ABÓBORAS.

VOCÊ VOLTOU
E AS MÁSCARAS
DISFARÇADAS DAS LÁGRIMAS
SALTARAM DA FACE
MOSTRANDO AS MAÇÃS DA HORTA
DURA COLHEITA

VOCÊ VOLTOU
E COM VOCÊ
VIERAM NUS
AGARRADOS,
SE GRUDANDO EM MINHA SAIA
ÍNDIOS, DRAGÕES,
FANTASMAS INSATISFEITOS

VOCÊ VOLTOU
MEIO SEM JEITO
CABELO DESFEITO

E COM VOCÊ
A BRISA TOCOU
AS FOLHAS DOS FLAMBOYANTS
NUMA CANÇÃO ESTRANHA

VOCÊ VOLTOU
CHEIO DE MANHA
SENSAÇÃO DE MANHÃ
E DE GIRASSÓIS.

VOCÊ VOLTOU
ANTES DE EU TER ME ENCONTRADO
ANTES DE EU MESMA TER VOLTADO
ANTES DE MIM

VOCÊ VOLTOU ASSIM
E OS GIRASSÓIS COLORIDOS
DESFILARAM ESCONDIDOS
EM MEUS SONHOS
DESPETALARAM E EXALARAM PERFUME
DE ROSAS VERMELHAS

VOCÊ VOLTOU
E MEU PENSAMENTO VOLITOU
CAMINHOU NA COPA
DAS ÁRVORES,
NOS JARDINS
NAS ARGOLAS
PENDURADAS NOS NARIZES AFRICANOS
NOS SINOS
NOS CANOS D’’AGUA
NAS AMORAS DE MINHA JANELA

VOCÊ VOLTOU
TRISTE E CABISBAIXO
CHEIO DE DEDOS,
CHEIO DE MEDOS,
SEM REFERENCIAIS
CHEIO DE AIS
GRITANDO MUDO
E EU SENTI
ASSIM COMO TUDO
A TUA DOR

VOCÊ VOLTOU
SEM FALAR DE AMOR
QUERENDO TUDO E ME ASSUSTANDO
ME MUDANDO
TRAZENDO AS FOLHAS
DO OUTONO EM SEUS BOLSOS
E BOLHAS EM TEUS PÉS.

VOCÊ VOLTOU E EM MEUS OUVIDOS
OUVI O SOM DAS COTOVIAS E DOS PARDAIS.

VOCÊ VOLTOU E AS SOMBRAS FICARAM
MENOS FÚNEBRES
MAS AS CLARIDADES MAIS SOMBRIAS.

VOCÊ VOLTOU
TRAZENDO NA BAGAGEM
MINHA IMAGEM,
DEZ LENÇOS E UM SAPATO
UM MAÇO DE CIGARRO FREE
UM LIVRO DE BOLSO
E UM ESBOÇO
DA MINHA CARICATURA
FEITA EM CARTOLINA

VOCÊ VOLTOU
ESPIANDO EM FECHADURAS
DURA REVELAÇÃO.

VOCÊ VOLTOU
O SIM NO NÃO
O NÃO NO SIM
VOCÊ VOLTOU ASSIM.

A Gula I

A GULA I


Deixa de ser guloso menino
Quando estou com você,
Me sinto sempre devorada,
Pela força das palavras
Que brotam do seu silêncio.

Vejo em você uma gula,
Uma ansiedade,
Um desejo de me devorar
De tal forma me devorando,
Começando
Pelas pontas dos dedos das mãos
e dos pés.
Às vezes eu te sinto, arrancando
Minhas unhas e meus dedos
Dos meus pés e de minhas mãos.
Lambendo o sangue que escorre
Da ponta dos meus dedos
Cujas unhas você também arrancou.
Sofrega e carinhosamente ,
O sangue que deles escorre,
Como aquele pai ou aquela mãe
Dizendo em voz que apascenta:
Você diz : Não chora, “Vai passar,
Não fica triste, vai passar.”
Te sinto também tirando a cadeira da sala,
Rasgando o sofá
Desarrumando a cama.
Tudo para engolir a minha alma.
Menino guloso que não espera
Que só devora, devora
Se escora em mim e passa brilhante
pela porta da frente
Sem nem se anunciar.
A GULA II


Devora,
Se escora
No meu corpo
Pressão inevitável.

Me engole.
Me bole.
Minha condição humana
Passa transversa
Diante da ambiguidade
Da tua gula

Desfaz o pacote
De mim
Rasgando o papel
O envelope.
O invólucro.
O laço.

Aço-lâmina
Da minha alma.

quarta-feira, 12 de março de 2008

o foco carismático da foca

Da linha do horizonte vejo
Um canto de percevejo
Como identifiquei?
É porque ele sorria verde
Cheirava colchão de capim
E comia amendoim